Revista Mare Nostrum

 

A revista Mare Nostrum - Estudos sobre o Mediterrâneo Antigo, ligada ao Laboratório de Estudos sobre o Mediterrâneo Antigo e ao Departamento de História da USP, é uma publicação anual editada desde 2010, e está atualmente em seu décimo número.

A revista está atualmente hospedada no sistema institucional de revistas da Universidade de São Paulo. Para ter acesso aos números anteriores, à comissão editorial e aos processos de submissão, clique aqui.

 

Chamada para dossiê "RELIGIÃO, RELIGIOSIDADE E CULTURA MATERIAL NO MUNDO ANTIGO" (PRAZO DE SUBMISSÃO - 30/08/2020)

 

A busca pelo contato com o que se compreendeu como supra-humano ou sagrado é algo que perpassa a trajetória humana, manifestando-se em múltiplas variedades e contextos. Da mesma maneira, variadas são as formas [e f(ô)rmas] (Guarinello, 2003) por meio das quais essas expressões religiosas foram descritas e analisadas por aqueles e aquelas que buscaram compreendê-las em algum sentido, seja contemporânea ou posteriormente. A recente “Virada Material” [Material Turn] identificada por Sonia Hazard (2012) para os campos da História e Ciências Sociais é exemplo disso. A partir da década de 1990, observa-se a reivindicação da centralidade dos objetos e fenômenos materiais nos estudos sobre religião. Tal movimento faz oposição à concepção ocidental herdada sobretudo da Reforma Protestante, na qual a religião era compreendida a partir de suas formas discursivas – tais como doutrinas, escrituras, filosofias, mitologias, folclores, etc. Assim, os artefatos, as práticas, os espaços, os corpos, as sensações e os afetos ganham destaque sob a justificativa de que “a religiosidade humana raramente é separada do ambiente material pelo qual é expressa, e conceber a cultura material e a cultura religiosa como esferas opostas ou mutuamente excludentes é limitar nosso entendimento de ambos os campos” (Droogan, 2013).

Na área da Arqueologia, por sua vez, a consolidação da Arqueologia da Religião na década de 1990 também alargou as fronteiras do campo por meio da validação da possibilidade de “os dados arqueológicos serem usados para reconstruir rituais e indagações sobre ideologias ou sistemas de crenças subjacentes à ação social” (Raja; Rüpke, 2015). Permitiu-se, assim, não apenas maior acesso às fontes materiais do passado, mas também que os arqueólogos desenvolvessem trabalhos importantes sobre a materialidade da religião, como os estudos de Timothy Insoll (2004), Miguel Astor-Aguilera (2010), Ian Hodder (2010), dentre outros.

Como consequência desses movimentos, testemunham-se nos últimos anos abordagens interdisciplinares sobre os valores simbólicos da cultura material religiosa (Appadurai, 1986; Hughes, 2010), de sua genealogia (Asad, 1993), de suas variáveis fenomenológicas (Morgan, 2012), de seu aspecto de “Religião Vivida” (Bell, 1992), da possibilidade de agência de seus objetos (Ingold, 2010; Latour 2002), bem como o desenvolvimento do chamado “Novo Materialismo” (Bennett, 2010; Latour, 2005). Todas essas abordagens, em alguma medida, são parte da área transdisciplinar de investigação da “Religião Material” [Material Religion], campo que reflete a crescente adesão à “virada material” por parte dos pesquisadores das religiões e religiosidades. 

Especialmente a partir da fundação do Religion Material Journal, em 2005, abriu-se um espaço internacional de debate e a possibilidade de exploração das inúmeras variáveis da materialidade da religião: suas imagens, seus objetos devocionais e litúrgicos, seus espaços sagrados, sua arte e artefatos, sua arquitetura e, da mesma forma, suas indumentárias, ídolos, relíquias, iconografias, santuários, paisagens, instrumentos ritualísticos, dentre outros. Os exemplos são muitos, como muitas são também as possibilidades abertas aos estudiosos das religiões da Antiguidade.

Convidamos, assim, todos os pesquisadores e pesquisadoras dos campos da História, Arqueologia, Ciências Sociais, Ciências da Religião e demais áreas afins que se dedicam ao estudo da materialidade das religiões e religiosidades no Mundo Antigo a enviarem suas contribuições. A Revista Mare Nostrum publica artigos científicos inéditos de temas livres e vinculados a dossiês temáticos, bem como ensaios bibliográficos e resenhas. Informações sobre as diretrizes para submissão podem ser encontradas no link: https://www.revistas.usp.br/marenostrum/about/submissions.

 

Organização: 

Ana Paula Scarpa Pinto de Carvalho

Pedro Luís de Toledo Piza

 

Prorrogação do prazo - Dossiê Gênero e Interseccionalidade na História Antiga

 

O LEIR-MA/USP informa que o prazo de envio de manuscritos para o dossiê Gênero e Interseccionalidade na História Antiga foi prorrogado para 20 de janeiro de 2020, impreterivelmente, conforme consta na página de notícias da revista Mare Nostrum.

 

Chamada para dossiê "GÊNERO E INTERSECCIONALIDADE NA HISTÓRIA ANTIGA" (PRAZO DE SUBMISSÃO - 20/12/19)

 

Os estudos de gênero sobre a Antiguidade vêm desenvolvendo um diálogo com discussões teóricas mais amplas das ciências humanas e dos movimentos sociais desde seu estabelecimento. Atualmente, o conceito de interseccionalidade aparece como uma nova possibilidade teórica de análise. Oriundo de discussões jurídicas norte-americanas e cunhado pela advogada e militante negra Kimberlé Crenshaw em 1989, o termo interseccionalidade veio dar força política e conceitual a um tipo de análise que integre marcadores sociais da diferença, tais como gênero, sexualidade, raça, etnicidade, faixa etária, entre outros. Nas ciências sociais produzidas no Brasil, por sua vez, este tipo de análise antecedeu a criação do termo, como se pode perceber a partir do trabalho de sociólogas negras, como Lélia Gonzalez.

No campo da História Antiga e Estudos Clássicos, a produção que utiliza a abordagem de gênero vem dialogando com o conceito de interseccionalidade como uma possibilidade teórica de revisitar velhos temas de análise, complexificando-os e expondo nuances. Citamos, como exemplo, o trabalho inicial de Birgitta Sjöberg (2012), que procura pensar o oikos ateniense a partir de um ponto de vista interseccional, demonstrando como esse espaço, bem como os corpos femininos que o habitam, são atravessados por uma multiplicidade de marcadores que os definem. No âmbito brasileiro, o recente artigo de Semíramis Corsi (2018), ao propor uma análise interseccional das representações do imperador Heliogábalo, aponta para um redimensionamento possível das performances de gênero desse personagem, quando consideradas suas identidades culturais específicas, seu status social e suas práticas religiosas.

O conceito tem demonstrado que é preciso ampliar as noções sobre gênero para além de uma identidade cultural que define homens e mulheres. O gênero só pode ser compreendido, como instrumento e como conceito, no contexto de relações de poder específicas que mobilizam e articulam diversos elementos. Tal articulação pode corroborar a contribuição que os estudos sobre a Antiguidade vêm dando no sentido de evidenciar uma multiplicidade de feminilidades e masculinidades.

Convidamos, pois, pesquisadores/as a submeterem seus trabalhos que contemplem esse debate, discutindo os diferentes arranjos e imbricações de marcadores sociais, em uma perspectiva interseccional. A revista Mare Nostrum publica artigos inéditos, podendo ser textos que tratem de uma pesquisa específica, artigos de crítica historiográfica, ensaios bibliográficos e resenhas. Para mais informações, visite nosso site https://www.revistas.usp.br/marenostrum/about/submissions.

 

Organização:

Sarah Fernandes Lino de Azevedo (Universidade de São Paulo)

Thais Rocha da Silva (Universidade de Oxford)

Fabrício Sparvoli (Universidade de São Paulo)

 

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ISSN: 2177-4218